Dirceu e o declínio da Globo
publicada segunda-feira, 02/09/2013 às 12:22 e atualizada segunda-feira, 02/09/2013 às 12:34
por Miguel do Rosário n’O Cafezinho
Observe
a foto [ao lado]. O jovem Dirceu sustenta um braço esticado, mãos
abertas, como se mandasse uma mensagem de “pare aí” para um interlocutor
que não vemos. Por uma dessas coincidências enigmáticas da vida, me
parece uma correspondência perfeita com o que ele vive hoje. O
interlocutor invisível são as forças que hoje lhe perseguem, também algo
invisíveis, escondidas sob o manto obscuro de um moralismo de ocasião,
com rosto mascarado por editoriais anônimos. A expressão facial de
Dirceu também é curiosa. Nos olhos se vê um pouco de apreensão,
perplexidade, até mesmo medo, mas a boca sugere um levíssimo sorriso
desafiador, como se tivesse consciência de seu papel, ou como se o temor
visto em seus olhos fosse um disfarce.
Quando um oficial se via isolado e cercado pelos inimigos, nas
guerras tradicionais, ele fazia de tudo para que estes perdessem o
máximo de tempo com si mesmo, visando consumir as forças adversárias.
Com isso, explicaríamos também o gesto do braço. Ele seria não apenas um
gesto de “afaste-se”, mas também um chamado. Bastaria virar as palmas
para cima e mexer os dedos. Dirceu chama para si mesmo as forças
reacionárias, num esforço heróico e suicida, para que elas consumam suas
forças tentando destruí-lo. Enquanto isso, o resto das tropas avançam. O
Brasil se desenvolve. E Dirceu se transforma, talvez sem muita
consciência disso, num mártir semiológico pós-moderno. Ele se ofereceu
em sacrifício aos chacais da mídia, permitindo que o lulismo seguisse
adiante, concretizando políticas sociais urgentes, reformando o Estado,
acumulando forças para embates futuros.
Jamais um político ocidental foi tão satanizado pela mídia como José
Dirceu. A agressão simbólica, semiológica, gráfica, audiovisual,
literária, política, jurídica e até mesmo econômica que este homem
sofreu não tem paralelo na história das democracias ocidentais.
Todas as forças obscuras, golpistas, reacionárias, se uniram para
derrotar José Dirceu. Não visaram apenas o homem, mas toda sua história.
Era preciso aniquilar o mito, afinal Dirceu era o quadro
intelectualmente mais preparado do Partido dos Trabalhadores, e poderia
vir a ser o próximo presidente da República.
A destruição de Dirceu transformou-se no símbolo do esforço da mídia
para criminalizar a política. Esforço este que tem sido uma de suas
prioridades. Quando a mídia chama os blogueiros de “chapa-branca” por se
posicionarem às claras num lado do embate político e ideológico, e os
acusa de receberem, clandestinamente ou não, dinheiro do campo que
defendem, usa a mesma tática de criminalização. Uma tática sobretudo
hipócrita porque ninguém jamais recebeu tanto dinheiro do Estado, via
publicidade, financiamentos, leis favoráveis, do que os grupos
tradicionais de mídia. Recebeu e recebe.
A criminalização de Dirceu, e a pressão inaudita que a mídia exerceu
sobre a opinião social, sobre a Procuradoria Geral da República e depois
sobre o Supremo Tribunal Federal, para condená-lo sumariamente,
independente dos autos e das provas, e jogá-lo numa prisão, são a
perfeita síntese deste objetivo: criminalizar a política é uma forma
sutil de manietar a democracia e entregá-la nas mãos das famílias que
controlam os meios de comunicação.
O clã Marinho detêm a maior fortuna já amealhada por uma só família
brasileira em 500 anos de história. Nem a família imperial, nem a
monarquia portuguesa, jamais possuíram um poder financeiro tão
avassalador: 52 bilhões de reais.
Por isso é um imperativo moral que o governo brasileiro interrompa
imediatamente qualquer transferência de recurso público para esta
empresa. Eles já têm dinheiro demais. Um poder midiático dessa
magnitude, somado ao gigantismo financeiro de seus proprietários,
representa uma ameaça ao regime democrático e à igualdade de condições
entre os diferentes agentes políticos que é condição vital para a
existência de uma democracia.
Prender Dirceu tornou-se uma obsessão para as Organizações Globo. É
uma prova de seu poder político. Prender Dirceu será a sua vingança
contra as derrotas que a democracia lhe impôs desde que a sociedade
impôs o fim da ditadura. Derrotas intermitentes e relativas, é verdade,
visto que a Globo venceu em 1989, com a eleição de Collor, cuja eleição
não apenas apoiou como colaborou decisivamente através da manipulação do
último debate na TV; venceu depois com a deposição do mesmo Collor,
quando este já tinha realizado as reformas que a Globo defendia e lhe
interessava a partir de então se afastar de sua impopularidade.
Venceu em 1994 e 1998, com a eleição de FHC, abafando o escândalo da
reeleição e minimizando os problemas econômicos que se acumulavam; de
certa maneira, também venceu durante os governos petistas, ao impor uma
política de comunicação que lhe permitiu superar sua crise financeira e
consolidar-se como a família mais rica do país. Os seis ou sete bilhões
de reais que a Secom deu à Globo, nos últimos 11 anos, ajudaram-na a
esmagar seus concorrentes, via práticas monopolísticas e predatórias no
mercado publicitário, e a transformar a família Marinho num Leviatã
tatuado com uma cifra na testa.
Entretanto, mesmo reunindo um patrimônio tão impressionante, a Globo
tem perdido poder político. Seu principal ativo, uma concessão pública,
tem perdido audiência para internet e outros canais, abertos ou
fechados. Seu lobby no parlamento declinou. O jovem de classe média hoje
vê a Globo como um veículo cafona, sem graça e anacrônico. Suas apostas
presidenciais falharam e prometem falhar outra vez no ano que vem.
A estratégia inconsciente de Dirceu, portanto, acabou dando certo. A
Globo investiu tantos recursos em sua destruição que negligenciou o
resto do exército. Enquanto Globo e Veja continuam a dar capas e mais
capas contra Dirceu, o Brasil profundo continua melhorando de vida. E se
hoje se tornou mais crítico e mais contestador, se exige mais dos
governos, também está cobrando mais da mídia, que vê igualmente como um
agente político, e dos mais conservadores e odiosos. A queda de
“popularidade” que tanto assustou os políticos, como vemos, também
atingiu em cheio a Rede Globo. A verdade, enfim, é dura…
Em mensagem a militantes enviada hoje pela manhã, o ex-ministro
confirmou que irá apelar a todas as instâncias possíveis para lutar por
sua inocência. Levará seu caso à Organização dos Estados Americanos
(OEA), para denunciar os vários abusos que sofreu, junto com outros
réus, no curso da Ação Penal 470: “ausência da dupla jurisdição, a
opressiva publicidade, um julgamento ao vivo pelas redes de TV, a falta
de provas, o desconhecimento das provas da defesa, a farsa do dinheiro
público e do desvio dos recursos da Visanet, o uso indevido da Teoria do
Domínio do Fato, o julgamento durante as eleições, as condenações as
vésperas do primeiro e segundo turno, as penas absurdas numa violação
aberta do código e da jurisprudência, a ausência de ato de oficio, no
meu caso o reconhecimento explícito pelo MP e Ministros da ausência de
provas.”
O ex-deputado lembra que hoje há “farto material de provas colhidos
pela revista Retrato do Brasil” que provam o uso regular dos recursos da
Visanet e apontam os erros grosseiros da procuradoria e do STF.
Íntegra da mensagem de Dirceu:
Prezada … minha gratidão pelo apoio, solidariedade e presença amiga, vou lutar, vamos lutar, ate provar minha inocência, vou a revisão criminal e as cortes internacionais, a farsa e o julgamento de exceção tem que ser denunciado, a violação dos mínimos direitos da defesa e das garantias individuais, a ausência da dupla jurisdição, a opressiva publicidade, um julgamento ao vivo pelas redes de TV, a falta de provas, o desconhecimento das provas da defesa, a farsa do dinheiro publico e do desvio dos recursos da Visanet, o uso indevido da Teoria do Domínio do Fato, o julgamento durante as eleições, as condenações as vésperas do primeiro e segundo turno, as penas absurdas numa violação aberta do código e da jurisprudência, a ausência de ato de oficio, no meu caso o reconhecimento explicito pelo MP e Ministros da ausência de provas, ha farto material de provas colhidos pela revista Retrato do Brasil, vamos a luta conto com você e sua indignação que e minha também. Estou as ordens para juntos vencermos essa batalha, nada me impedira, vou lutar sempre. abraços Ze
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