FHC, construtor de uma ‘realidade irreal’ por Hélio Fernandes
TRIBUNA DA IMPRENSA ONLINE
terça-feira, 08 de janeiro de 2013 | 05:40
FHC, construtor de uma ‘realidade irreal’, enganou a opinião pública
por mais de 40 anos. Fingiu ter sido preso de cassado. Na última
entrevista de 2012, mais falsidade.
Helio Fernandes
Sobre alguns desses fatos escrevi fartamente nos 8 anos em que FHC foi
presidente. Outros são inteiramente novos, extraídos dessa entrevista
falsa, absurda, ridícula, indigna de um ex-presidente, mesmo sendo ele.
Durante toda a ditadura, FHC foi complacente com ela, complacente e
envergonhado, constrangido, fervoroso participante da condição de
“cassado que se manteve com todos os direitos”. Por várias vezes, com
ele no Poder, desafiei-o a exibir o ato de cassação. O ato e a data.
Viajava para o Chile onde estavam amigos verdadeiramente cassados.
Quando o Chile foi vítima do ditador-perseguidor-torturador Pinochet,
passou a ir para Paris, ficando na casa de um amigo intelectual,
verdadeiramente exilado.
Fui conselheiro da ABI (a pedido de
Barbosa Lima Sobrinho) por 18 anos. Quando o grande jornalista foi
embora, saí também. Um dia, o secretário-geral da ABI, jornalista
Mauricio Azedo (hoje, excelente presidente), lia um ofício que seria
enviado ao presidente FHC, pedi um aparte e contestei o ofício, dizendo
que a ABI não podia se dirigir a FHC naqueles termos. Justifiquei as
restrições. Democraticamente, Azedo colocou em votação o envio do
ofício, foi amplamente recusado, a história da ABI ficou imune e
intocável.
FHC, o único cassado que
disputou eleição na ditadura
O tempo correu, em 1978 o próprio FHC se encarregou de comprovar os
fatos, desmoralizar a sua “verdade” sem corroboração (termo policial) e
sem constrangimento. Em plena ditadura, se lançou candidato a senador,
em chapa com Franco Montoro. Este teve 3 milhões de votos, FHC não
chegou a 10 por cento. Mas por falha da legislação, ficou como suplente,
começando a carreira política, surpreendentemente chegando a
presidente.
Nesse mesmo 1978, dois episódios que provam a
falsidade e a falsificação de FHC. José Serra, com quem só falei uma
vez, num momento doloroso, se lançou candidato a deputado estadual, por
SP. Foi vetado, a explicação: “Ainda estava cassado”. E a aprovação de
FHC, tinha que base e justificativa?
Nesse mesmo 1978, o meu
partido (MDB) tentou lançar minha candidatura ao Senado. Em 1966 fui
cassado por 10 anos, o que deveria terminar logicamente em 1976.
Resposta do ministro Gama e Silva: “Agora a cassação não é mais por 10
anos, é para toda a vida”.
Quase no fim da ditadura, apavorado,
Gama e Silva enganou também os generais ditadores, pediu para ser
embaixador. Como era monoglota, foi para Portugal.
O suplente que chegou a presidente
Em 1982, Montoro se elegeu governador, FHC assumiu a suplência, se
transformou em titular. Em 1986 acaba o mandato (?), precisava se
reeleger. Fez então todas as patifarias político-eleitorais. Apoiou
Maluf, candidato a governador, e Antonio Ermírio de Moraes (também
candidato), desde que não lançassem nomes para o Senado. O de Maluf era
esse José Maria Marin (que já fora governador), o de Ermírio era o maior
amigo de FHC, retirado. Ficaram então só ele e Covas, eleitos cada um
com 3 milhões de votos. Mas não elegeram o governador. Orestes Quércia,
que não tinha relações com eles, era invencível, ganhou.
Manobrou e manipulou o ingênuo Itamar, que ficara no lugar de Collor.
Ganhou 2 ministérios, foi lançado presidenciável contra Lula em 1994.
Mas não acreditava que fosse eleito, reduziu para 4 anos o mandato que
era de 5. Lógico, quem acreditava na vitória não reduziria o mandato.
Principalmente FHC, que na primeira oportunidade rasgou a Constituição
(perdão, comprou) para se reeleger, fato único na História republicana.
Tentando se comparar com Marx, teve um filho com uma doméstica (hoje
funcionária do Senado), mas Marx era Marx, único e indiscutível. FHC
deveria ter sido julgado pelo Supremo ou investigado por CPI. Em dois
episódios gravíssimos: 1 – Toda a Comissão de Desestatização,
barbaramente enriquecida. 2 – O mensalão que possibilitou a reeleição de
FHC. O dinheiro era entregue de uma vez só, imaginem quanto custou o
voto de 513 deputados e 81 senadores, pelo menos a maioria.
A
“compra” da Vale e dezenas de empresas se deu pelo “valor de face”. Que
geralmente era de 5 cruzeiros, mas no mercado “valiam” míseros 10
centavos.
As duas últimas entrevistas
Uma para jornal
impresso, outra para televisão. Na primeira, perguntaram se “estava
namorando”, hesitou. O repórter insistiu, respondeu: “Estou, mas é
ridículo estar namorando aos 82 anos”. Nada a contestar, FHC se definiu
com inteira propriedade.
Quem FHC levaria, homem e
mulher, para uma ilha deserta
Na segunda entrevista, na televisão, novamente ridículo, com aquelas
perguntas tolas e idiotas, com mais de 50 anos de existência e
repetição. Por exemplo:
“Com quem o senhor gostaria de ir para
uma ilha deserta?”. A resposta deveria ser logicamente uma mulher. A
bobagem da pergunta, exatamente igual à bobagem da resposta.
Seguindo no mesmo rumo, qual o “intelectual” que levaria para conversar
também numa ilha deserta. Escolheu e indicou José Sarney, tentou
explicar mas nem precisava.
Ivan Lessa e Millôr Fernandes
Na televisão, um dos entrevistadores arriscou ou afirmou: “Nesse ano de
2012, o senhor perdeu dois grandes amigos, Ivan Lessa e Millôr
Fernandes. Como senhor se sentiu?”
Estavam mortos, FHC não teve
a menor hesitação, “chutou” para valer. Sobre Ivan: “Não era amigo
dele, o relacionamento não era profundo, mas estive com ele várias
vezes”.
A verdade indiscutível e indestrutível: nunca esteve
com Ivan Lessa. Nos tempos do Pasquim, Ivan não ia a Brasília, FHC não
vinha ao Rio. E quando vinha ficava bem longe do Pasquim, amaldiçoado
pela ditadura.
Depois do Pasquim, enojado, Lessa foi para
Londres, onde morou e trabalhou na BBC, mantendo a colaboração com o
Pasquim. Veio uma vez ao Brasil, mas não foi para conversar com FHC.
Alguém me diz que foram duas viagens, não confirmei, mas publico.
Com Millôr Fernandes, a mesma pergunta, e a resposta de FHC: “Estive
com o Millôr várias vezes, entendia e respeitava suas críticas ao meu
governo”. Impressionante a capacidade de inventar ou falsear fatos.
A verdade: jamais falou com o Millôr, frustração total. Um dia, pediu
ao jornalista Rodolfo Fernandes, com quem mantinha relacionamento
jornalístico: “Pergunte ao seu tio Millôr se ele aceita almoçar ou
jantar comigo no Alvorada. Se ele aceitar, telefone para ele”.
Rodolfo perguntou ao Millôr, este nem hesitou: “Não, Rodolfo, como
presidente, de jeito algum. Quando ele deixar o governo, podemos
examinar novamente a questão”. O Millôr era assim e não mudava.
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PS – Tudo o que está escrito aqui é rigorosamente verdadeiro. Os fatos
políticos são públicos e notórios, as datas, conhecidíssimas. O resto,
conto como personagem e como o maior opositor, por 8 anos seguidos, do
precário e medíocre (e também corrupto) governo FHC.
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