Lula, em caravana pelo Nordeste - Agosto de 2017
As reflexões abaixo do professor Nilson Lage sobre o estudo
conduzido pelo Professor Teun Van Dijk “How Globo media manipulated the
impeachment of Brazilian Presidente Dilma Rousseff” (Como a mídia Globo
manipulou o impeachment da Presidente Dilma Rousseff), publicado na
revista Discourse & Communication, 1-31, 2017, são importantes e necessárias para compreender com a Globo se apoderou das mentes e dos corpos de milhões de brasileiros.
Não só corpo, mas a alma e mente estão em disputas nesse século XXI. A Globo e assemelhados não manipula pelo que escreve, fala em sua telinha, mas pela omissão de informações. O público que se "lasque" se quiser contextualizar a informação ou melhor, descontextualizar as informações que recebe.
O processo de manipulação da opinião pública promovido pelas Organizações Globo ao protagonizar o golpe de estado de 2016 consistiu basicamente em, ao concentrar o foco do noticiário em acusações sobre temas legais não compreensíveis ou verificáveis pelo público, omitir informações que permitiriam o entendimento correto do assunto, particularmente opiniões de juristas renomados, críticos do entendimento acusatório.
O que melhor evidencia, porém, a natureza conspiratória da cobertura noticiosa foi a omissão de que o objetivo do processo em curso não era o que parecia ser – a condenação de supostos desvios de conduta de governantes – mas, sim, uma mudança da orientação política do país, escolhida pelo povo em eleições sucessivas, em favor e beneficio de interesses das oligarquias conservadoras.
Essas são duas das conclusões principais do estudo conduzido pelo Professor Teun Van Dijk “How Globo media manipulated the impeachment of Brazilian Presidente Dilma Rousseff” (Como a mídia Globo manipulou o impeachment da Presidente Dilma Rousseff), publicado na revista Discourse & Communication, 1-31, 2017. O autor, o maior especialista vivo em análise do discurso informativo, analisa a estruturação dos argumentos de 18 editoriais do jornal O Globo, associados à cobertura maciça da Rede Globo e,em particular, do Jornal Nacional.
Van Dijk atribui o ataque concentrado à figura de Luiz Inácio Lula da Silva, não só ao fato de ele ser a personificação do Partido dos Trabalhadores, mas, sobretudo, a seu prestígio internacional e ao êxito dos programas sociais que implementou:
“Há uma questão de profundo ressentimento de classe, em um país no qual a desigualdade social é particularmente aguda e renitente.”
A manipulação midiática admite abordagens multidisciplinares: filosófica, quanto à ética; sociológica, como abuso de poder; política; em comunicação social e em análise do discurso:
“O objetivo cognitivo primário da manipulação é o ‘controle da mente’: influir nas convicções das pessoas tanto quanto em seus modelos mentais (incluindo emoções) sobre eventos específicos, ou, de maneira mais genérica, conhecimentos, atitudes e ideologia. O objetivo indireto, secundário, é uma ‘ação de controle’: que as pessoas ajam (votando, comprando, marchando lutando etc) a partir de tais crenças ou emoções.”
No caso, a cobertura da Globo tratou de ampliar as manifestações contra o governo e minimizar as manifestações contrárias. Na etapa jurídica do golpe, uma das principais estratégias midiáticas foi sustentar a legitimidade do processo do impeachment, com insistência tal que terminou revelando o temor da ilegitimidade. Quanto aos recursos retóricos, Van Dijk destaca, além do comum no discurso político (generalizações abusivas, simplificação dos eventos, exageros, desqualificação de adversários por nomes degradantes etc.), a utilização constante no noticiário de formas impessoais (“soube-se”, “informa-se”), do passado do pretérito (“teriam”, “seria”) e de dubitativos (como “talvez”).
Uma pérola são as pressuposições em lugar de afirmações diretas, como nesta sentença :
“Seria desastroso se, quanto perseguia o dinheiro sujo, os investigadores fingissem não perceber que empreiteiras envolvidas no escândalo reformaram o sítio de Atibia e o tal triplex de Guarujá.”