Um ano antes da explosão da base de lançamentos de foguetes de Alcântara, no Maranhão, o coronel do exército Roberto Monteiro de Oliveira fez uma "premonição": o projeto brasileiro de enviar um satélite ao espaço sofreria sabotagem.
Em seu depoimento, feito em agosto de 2002, o coronel revelou que na época havia um plano para implantar uma base norte-americana no Brasil -- o que ameaçava gravemente a soberania do país.
Tal plano não era somente especulação, mas um projeto prontinho para ser colocado em prática. E quem governava o país era Fernando Henrique Cardoso, do PSDB. Saliente-se que as denúncias do cel. Monteiro não mereciam atenção somente por sua patente no exército brasileiro, mas principalmente porque ele fora chefe do (extinto) Serviço Nacional de Informação -- SNI --, órgão estatal de inteligência (a "CIA" brasileira) que era encarregado de trabalhar com informações e contra-informações altamente estratégicas para o Brasil.
Em tese, claro. Pois, como todo mundo sabe, o SNI, criado em 1964 (e extinto em 1999, sendo substituído pela Abin), acabou desvirtuando suas funções para virar um instrumento da repressão do governo militar de então.
Mas a despeito de tal desvirtuamento, não se pode negar que o SNI dispunha de informações altamente relevantes para a soberania brasileira, como bem mostra este depoimento do cel. Monteiro.
No vídeo, ele ressalta que o sucesso do projeto do satélite brasileiro implicaria na inutilidade de outro projeto, que era a pretensão dos EUA de transformar a base de Alcântara em base norte-americana. Eis a transcrição do que disse o cel.
Monteiro:
"Eu vou bancar o profeta. Aquilo é tão importante pra eles [os EUA] que eu vou dar duas hipóteses: ou não vão lançar o satélite (vão apresentar qualquer desculpinha; qualquer argumentação técnica); ou vão lançar e ele vai explodir.
E como eu tenho 76 anos, eu digo que não há uma terceira hipótese. Porque se lançar [o satélite] e ele funcionar, tudo isso que está aqui [ele exibe documentos] podemos jogar na lata do lixo".
Os documentos que o coronel trazia em mãos eram informações sobre o projeto dos EUA de encampar a base de Alcântara.
E o raciocínio dele é simples de entender. Porque o sucesso do projeto do satélite daria ao Brasil autonomia para suas ambições no campo aeroespacial -- logo, altamente estratégico para a soberania do país.
Mas tal autonomia obviamente ia contra a pretensão dos EUA de manter o Brasil (e toda a América Latina) subserviente aos seus interesses. Tal prepotência sempre vinha com a eufêmica fachada de "parceria".
Um ano depois do depoimento do cel. Monteiro, a Base de Alcântara explodiu antes do lançamento do satélite. Coincidência?
Em 2009, ou seja, sete anos após a denúncia do cel. Monteiro, documentos vazados pelo Wikileaks revelaram que o coronel não estava fazendo "premonição" alguma, mas sim revelando uma assustadora realidade. Pois as correspondências trocadas entre autoridades dos EUA revelaram que eles não queriam de jeito algum que o Brasil desenvolvesse a energia nuclear e a tecnologia aeroespacial.
E para evitar isto, exerceram enorme pressão contra os países parceiros do Brasil no desenvolvimento de tais tecnologias. No caso do lançamento do satélite brasileiro (fruto de longos anos de investimento financeiro e científico), os norte-americanos estavam dispostos inclusive a sabotar o projeto.
O mais incrível desta revelação do Wikileaks foi a anuência do então presidente Fernando Henrique Cardoso, quando aceitou que órgãos estratégicos (como a Polícia Federal) fossem cooptados pela inteligência norte-americana -- como denunciou o jornalista Bob Fernandes em longas e detalhadas reportagens feitas entre março de 1999 e abril de 2004 na revista Carta Capital (confira no link do vídeo logo abaixo).
http://www.youtube.com/watch?v=aPV0ke...