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domingo, 14 de maio de 2017

Seis fortes indícios do interesse dos Estados Unidos nos resultados da Lava Jato


Seis fortes indícios do interesse dos Estados Unidos nos resultados da Lava Jato
por Luiz Carlos Azenha
Barack Obama assume a Casa Branca e escala Hillary Clinton para o Departamento de Estado.
O órgão anda enfraquecido relativamente ao Pentágono, que deu as cartas na política externa durante George W. Bush.

Mas, a grana é curta. E Hillary fala em usar mais o “soft power“, apontando o Itamaraty — sob Celso Amorim — como exemplo da eficácia da estratégia.

Soft power é quase como influenciar o vizinho e convencê-lo de que seus interesses são convergentes e que vocês podem trabalhar juntos. Quando Estados Unidos e Belize trabalham juntos, por exemplo, quem tem mais força na relação? E quando isso se dá entre Brasil e Paraguai?

Soft power é usar sua diplomacia para conquistar mercados e obras no Exterior, como fizeram a Suécia no caso dos caça Gripen, o Brasil no caso das obras da Odebrecht e os Estados Unidos no caso do Sistema de Vigilância da Amazônia, o SIVAM:

Da Folha:


Espionagem do governo dos EUA e a ajuda de um militar brasileiro garantiram à companhia norte-americana Raytheon a conquista do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), projeto de US$ 1,4 bilhão de proteção da bacia amazônica que será inaugurado na quinta-feira em Manaus.

Documentos oficiais dos Estados Unidos revelam que, em junho e em julho de 1994, nas semanas que antecederam a apresentação final das duas propostas finalistas do processo de seleção do Sivam, a Casa Branca soube, por meio de “fontes dos serviços de inteligência”, que as condições de financiamento oferecidas de forma sigilosa pela francesa Thomson-CSF (que mudou seu nome para Thales em 2000) eram melhores que as da Raytheon.

Com base nessa descoberta, diplomatas americanos reuniram-se sigilosamente com o tenente-brigadeiro Marcos Antônio de Oliveira, então coordenador do processo de seleção da empresa que forneceria equipamentos ao Sivam, e, todos juntos, puseram em prática uma estratégia que melhorou a proposta da Raytheon e garantiu sua vitória. Hoje, Oliveira é o chefe do Estado-Maior da Aeronáutica.

Os documentos, cerca de 400, são do Departamento de Estado, do Departamento de Comércio, da CIA (agência de inteligência) e da embaixada dos EUA no Brasil. Foram obtidos pela Folha ao longo dos últimos três anos com base na lei norte-americana da liberdade da informação –“Freedom of Information Act”. Outros cem papéis sobre o Sivam foram total ou parcialmente censurados.

No mundo real, é assim que funciona.

É óbvio que os Estados Unidos nunca engoliram a ideia de que o Brasil poderia projetar poder sobre seu “quintal”, na América Latina, disputando mercados e influenciando eleições. Mas, na diplomacia, isso sempre foi assim (mais recentemente, na clara opção preferencial de Vladimir Putin por Donald Trump).

Portanto, é bom juntar os indícios de que os Estados Unidos, se não promoveram diretamente a Operação Lava Jato e o impeachment de Dilma, não assistiram passivamente aos acontecimentos no Brasil — por exemplo, à aproximação preferencial com os Brics ou atuação destacada nos organismos multilaterais.

Vamos a alguns deles:

1. A National Security Agency (NSA), dos Estados Unidos, espionou a Petrobras e, pessoalmente, a então presidente Dilma Rousseff, que chegou a utilizar um celular comum;

2. Assim que foi dado o golpe contra Dilma, as ações adotadas por Michel Temer na estatal vieram ao encontro dos interesses dos acionistas e, por acaso, dos Estados Unidos: transformar a Petrobras em mera furadora de poço (não mais, como a Shell e a Exxon Mobil, uma empresa que atua do poço à bomba). Isso significa acelerar a produção do pré-sal, o que implica em derrubar o preço internacional do petróleo e abrir mais espaço para as multinacionais, às quais faltam oportunidades de negócios devido ao grande controle estatal sobre o petróleo em todo o mundo;

3. O destaque dado por várias publicações norte-americanas ao juiz Sergio Moro, que estudou nos Estados Unidos e fez um tour pelo país bancado pelo Departamento de Estado;

4. A negativa de visto dos Estados Unidos ao senador Romero Jucá, acusado mas ainda não condenado por envolvimento na Lava Jato. Um recado a outros investigados: não há como escapar;

5. A descoberta, agora, de que o governo Lula — segundo os marqueteiros João Santana e Monica Moura — pode ter interferido na reeleição de Nicolas Maduro na Venezuela e na eleição de Mauricio Funes em El Salvador, através da Odebrecht, fazendo avançar interesses da diplomacia brasileira dentro do “quintal” dos Estados Unidos. É óbvio que Washington tem olhos e ouvidos fiéis nos dois paises e jamais aceitaria que outro país fizesse o que Washington faz todos os dias em todo o planeta.

6. O jogo duro da Lava Jato não apenas com os executivos corruptos, mas com a empresa Odebrecht, uma das maiores exportadoras de serviços do Brasil. Acordos de cooperação internacional fechados pela PGR, dos quais o Executivo brasileiro foi praticamente excluído, são entendimentos entre burocracias que apenas aparentemente são despolitizados. Vejam o caso da Raytheon, acima, para entender que nos Estados Unidos há “vasos comunicantes” e cooperação entre as agencias governamentais, de maneira a colocar acima de tudo os interesses políticos, diplomáticos e econômicos de Washington.

Fiquem, agora, com recente entrevista do jurista Fábio Konder Comparato à Rede Brasil Atual:

Comparato: ‘Prender ou pelo menos incriminar Lula faz parte da política norte-americana’

Para jurista, depoimento de Lula mostrou que “não há o menor indício de prova” contra o ex-presidente. Mas interesses por trás da Lava Jato são poderosos: “Moro é um grande amigo dos Estados Unidos”

por Eduardo Maretti, da RBA

São Paulo – Para o jurista Fábio Konder Comparato, o destaque do depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é que o interrogatório do petista pelo juiz Sérgio Moro em Curitiba, na quarta-feira (10), “demonstra claramente” que a acusação da compra do apartamento no Guarujá pelo próprio Lula ou por sua esposa, Marisa Letícia, é falsa.

Porém, ele avalia que, embora o depoimento tenha mostrado não haver “absolutamente o menor indício de prova” contra Lula, existem interesses enormes por trás da Operação Lava Jato. “É óbvio que a Lava Jato vai procurar prender ou pelo menos incriminar o Lula. Porque isso faz parte, entre outras coisas, da política norte-americana”, diz. “Assim que a Dilma caiu, graças aos esforços de um senador chamado José Serra, eles conseguiram quase imediatamente desnacionalizar o pré-sal.”

Ao comentar o destaque dado hoje pela imprensa comercial do país – segundo a qual Lula atribui a Marisa Letícia o interesse e decisões sobre o apartamento no litoral sul de São Paulo – Comparato ironiza a falta de provas materiais que respaldem as acusações contra o petista. “Veja só, essa é uma prova da falsidade do Lula.”

O que o sr. destacaria no depoimento de Lula?

A parte que vi demonstra claramente que essa acusação da compra do apartamento no Guarujá é falsa. Mas, de qualquer maneira, é obvio que a Operação Lava Jato vai procurar prender ou pelo menos incriminar o Lula. Porque isso faz parte, entre outras coisas, da política norte-americana. O Moro é, aliás, não digo um agente norte-americano (risos), mas ele é sem dúvida um grande amigo dos Estados Unidos. Ele fez o seu curso de pós-graduação lá. E vai quase todo mês aos Estados Unidos.

Ora, para os americanos, a presidência do Lula não foi nada agradável. Assim que a Dilma caiu, graças aos esforços de um senador chamado José Serra, eles conseguiram quase imediatamente desnacionalizar o pré-sal e depois foram vendendo a Petrobras aos poucos. O que significa que já tiveram este resultado muito importante. Mas o outro resultado importante foi tornar muito difícil a vida dos Brics com a saída do Brasil. O que eu vi no depoimento é que não há absolutamente o menor indício de prova ou qualquer coisa que seja possível apresentar como prova.

Os advogados de Lula falaram em “anomalia e patologia processual” contra o ex-presidente, na Lava Jato…

Sim, e sobretudo em um momento em que o juiz Moro perguntou ao Lula algo sobre o “mensalão”. Ora, se alguém ou alguma parte tivesse perguntado isso, no interrogatório de um réu ou no depoimento de testemunhas, ou seja, nesse caso do tríplex, o juiz iria impedir essa pergunta. E no entanto ele resolveu fazer a pergunta ele próprio.

O sr. concordaria com algumas avaliações de que o juiz Moro teria ficado de certa maneira desmoralizado no processo?

Desmoralizado diante de quem?

Diante da opinião pública.

A opinião pública é falseada pelos meios de comunicação de massa.

A reação popular e a mobilização a Curitiba configuraria um tiro no pé da Lava Jato, como alguns avaliam?

Não, porque eles têm outros processos em andamento e, de qualquer maneira, se os americanos decidiram que o Lula não pode se candidatar, é óbvio que a Justiça brasileira vai impedir esta candidatura.

O sr. destacaria algum trecho específico do depoimento?

Eu vi… tudo aquilo que dizia respeito ao tríplex. Hoje o Estadão põe na primeira página algo como “Marisa tinha interesse no apartamento”. Veja só, essa é uma prova da falsidade do Lula.

A grande imprensa parte agora para essa nova narrativa, como se Lula não tivesse escrúpulos.

Exato, e como se o Lula não fosse uma pessoa adulta e responsável. Teria que responder pela Marisa. Sobretudo porque a Marisa já não está mais no mundo dos vivos, então ela não pode contestar essa questão.

Como o sr. viu a mobilização popular até Curitiba?

Muito boa a mobilização popular. Mas, pelo menos no que diz respeito aos meios de comunicação de massa, ela não foi divulgada.

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