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sábado, 15 de abril de 2017

EUA e o Holocausto Nuclear. Trump, a besta-fera.



Trump e o Holocausto Nuclear, por Fábio de Oliveira Ribeiro - Luis Nassif

sab, 15/04/2017 - 11:54

Trump e o Holocausto Nuclear

por Fábio de Oliveira Ribeiro

Alguns analistas estão considerando a escalada militar de Donald Trump um beco sem saída que pode acarretar uma guerra nuclear total entre EUA e Rússia (por causa da Síria ou por causa da Ucrânia) ou entre EUA e China (por causa da Coréia do Norte) ou entre EUA e Rússia/China (por causa do unilateralismo criminoso dos EUA). Os norte-americanos certamente podem impor pesadas perdas aos seus inimigos. Mas isto não significa que eles mesmos serão poupados da devastação nuclear.

​Desde tempos imemoriais a guerra foi tratada como um negócio. Ela era um negócio extremamente lucrativo para os traficantes de escravos que acompanhavam as legiões romanas e para os negociantes que abasteciam as tropas de Roma onde quer que elas fossem operar. O primeiro contrato de seguro que eu tenho notícia ocorreu por ocasião da II Guerra Púnica. Em razão do poderio naval de Cartago, Roma passou a indenizar os proprietários dos navios carregados com trigo, azeite e vinho despachados para abastecer as legiões na Espanha que eram afundados no trajeto.

As guerras modernas também são extremamente lucrativas para os fabricantes de armamentos. Não por acaso, a partir da II Guerra Mundial as fábricas de aviões, tanques e caminhões passaram a ser regularmente bombardeadas. A mesma lógica levou os aliados a bombardear os fabricantes das peças utilizadas para montar armamentos sofisticados. O capitalismo transformou tanto os meios de guerra quanto os objetivos militares.

Todavia, a guerra nuclear não segue o mesmo padrão de suas antecessoras. Ao contrário das guerras antigas e mecanizadas, que eram longas e desgastantes, mas raramente causavam danos muito além dos locais ou dos países onde eram travadas, assim que começar a guerra nuclear implicará na destruição pura e simples das condições indispensáveis à via biológica no planeta.

Numa guerra nuclear, não há objetivo militar a ser alcançado, nem lucro a ser desfrutado. O prejuízo imposto ao inimigo se torna também um prejuízo imposto à própria população, pois ninguém será poupado do inverno nuclear e da contaminação por radiação. Foi por isto que Robert F. Kennedy disse com muita propriedade que:

“Uma vez iniciada uma guerra nuclear, mesmo entre pequenas e remotas nações, seria extraordinariamente difícil sustar uma progressão gradual que acabaria convertendo uma guerra local numa conflagração geral. Cerca de 160 milhões de americanos e centenas de milhões de outros povos poderiam morrer nas primeiras vinte e quatro horas de um duelo nuclear em grande escala. E, como disse Nikita Kruschev, os sobreviventes teriam invejados mortos." (Luta por um Mundo Melhor, Robert F. Kennedy, Editora Expressão e Cultura, Rio de Janeiro, 1968, p. 178)

As palavras dele ecoam as de Hannah Arend, que com muita propriedade afirmou que:

“...a guerra deixou de ser a ultima ratio de negociações e seus objetivos determinados no ponto em que estas se rompiam, de modo que as ações militares supervenientes não eram senão uma continuação da política por outros meios. O que está hoje em questão é algo que nunca poderia ser, é claro, objeto de negociação: a mera existência de países e seus povos. É neste ponto – em que a guerra não mais supõe como dada a coexistência de partes hostis e já não busca apenas por fim ao conflito pela força – que ela deixa verdadeiramente de ser um meio de política e, como guerra de aniquilação, começa a cruzar a fronteira estabelecida pela política e a aniquilar a própria política.” (A Promessa da Política, Hannah Arendt, Difel, Rio de Janeiro, 2008, p. 219)

Trump não flerta com a barbárie. Ele flerta com algo muito além da própria barbárie, pois até mesmo entre os bárbaros havia política. Não a política tal como os gregos e romanos a imaginavam, mas certamente aquela que mais convinha àqueles povos cujos territórios eram cobiçados pelos que se autoproclamavam civilizados.

Qual o sentido de aniquilar a Coréia do Norte com armas nucleares - caso a frota dos EUA for afundada por uma bomba atômica norte-coreana - se o vento espalhará as cinzas contaminadas do país destruído pela Coréia do Sul, pelo Japão e pela China? Como os amigos e adversários dos EUA reagirão ao sofrer as previsíveis consequencias nefastas da aniquilação nuclear da Coréia do Norte?

JFK e Robert F. Kennedy enfrentaram dilemas semelhantes quando da crise dos mísseis em Cuba. Mas ao contrário de Donald Trump eles tinham consciência de que o mal que fizessem se transformaria também no mal que os norte-americanos e seus aliados sofreriam. O atual presidente dos EUA não parece ter consciência de nada além das bobagens que ele escreve no Twitter. Trump não está a altura da tarefa para a qual foi eleito. Pior... todos nós teremos que suportar os resíduos tóxicos das ações dele muito embora não o tenhamos colocado ele na Casa Branca.

Falem-me mais sobre a democracia norte-americana... A mim ela se parece mais e mais a uma tirania fora de controle que coloca em risco o planeta inteiro só para que Trump possa dizer: “Minha vontade prevaleceu...” antes do fim.

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