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domingo, 20 de novembro de 2016

Lula deve morrer.

 
AYRTON CENTENO
Jornalista.
"Vendedor de tapioca aos sete anos, depois tintureiro, engraxate, metalúrgico e presidente de sindicato, Lula poderia ter morrido naquele sábado, 19 de abril de 1980, quando seis agentes do Dops empunhando metralhadoras foram prendê-lo em casa às 5h30 de uma manhã nevoenta. Uma "condução coercitiva" em São Bernardo cinco anos antes da ditadura exalar seu último suspiro. Temeu, como diria depois, aparecer morto num "acidente" na via Anchieta. Afinal, sob o regime civil-militar muita gente buscada em casa para "prestar esclarecimentos" nunca mais foi vista. Virou preso político mas, uma vez mais, não morreu.

Lula deveria morrer quando um câncer atacou sua laringe em 2011. Tão logo correu a notícia, as alcatéias uivaram em regozijo nas caixas de comentários. "Tenho dó do câncer ter que comer carniça petralha", lamentou um piedoso internauta. Outras vozes se juntaram para chamar o presidente adoentado -- que batera sucessivos recordes de popularidade atingindo índice de 83% de aprovação, o maior da história do país -- de "verme", "crápula", "desprezível", "nove dedos" e "imundo". Mas Lula os decepcionou. E, novamente, não morreu.
Lula deveria morrer muitas vezes. Antes de fundar a CUT em 1983, a quinta maior central sindical do mundo. Antes de conceber o Partido dos Trabalhadores em 1980 que conquistaria no voto, quatro mandatos de presidente da república. Antes do Bolsa-Família, do Prouni, de retirar 27 milhões de brasileiros da pobreza extrema, do reajuste anual do salário-mínimo acima da inflação, do PAC, da ampliação da distribuição da renda, de implantar 14 novas universidades federais (contra nenhuma de seu antecessor), de criar mais de 200 escolas técnicas, da descoberta do pré-sal, da política externa independente...
Lula deveria morrer quando emergiu da plebe rude para reivindicar a Presidência da República. E conquistar um posto que, até então, era reservado por direito divino aos nhonhôs da Casa Grande. E este foi um pecado imperdoável. Mortal."

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