Na palestra, Garzón foi mais incisivo do que na entrevista e afirmou que
o que está acontecendo no Brasil é "um autêntico golpe institucional de
Estado".
Assista ao vídeo da entrevista, cuja transcrição completa segue abaixo.
Juiz que prendeu o ditador Pinochet chama de “golpe institucional” o afastamento da Dilma
O
juiz espanhol Baltasar Garzón, durante evento na Universidade de
Brasília (UnB), na quinta-feira (12), conversou com o PT na Câmara sobre
o momento político vivido no Brasil. Garzón ficou conhecido
mundialmente por ter determinado, em 1998, a prisão do ditador chileno
Augusto Pinochet, quando este visitava Londres, por seus crimes contra a
humanidade - tortura, sequestro, desaparecimento forçado e assassinato
de milhares de pessoas, incluindo cidadãos espanhóis.
Na palestra, Garzón foi mais incisivo do que na entrevista e afirmou
que o que está acontecendo no Brasil é "um autêntico golpe institucional
de Estado".
Assista ao vídeo da entrevista, cuja transcrição completa segue abaixo.
"O momento que se vive hoje no Brasil
não é importante só para o Brasil, mas está sendo objeto de atenção em
todo o mundo porque não é muito habitual que haja um processo de
impeachment e, sobretudo, há muita perplexidade pelo procedimento que
foi seguido. Ainda que se afirme que se respeitou a Constituição e as
vias democráticas, muitos temos dúvidas de que isso tenha sido assim.
Partindo de um fato de que os mesmos
componentes do Congresso, do Senado, que participaram nessa votação –
sem dúvidas, se está debatendo tudo o que se está vivendo no Brasil em
torno da corrupção, das responsabilidades políticas – estão sem
legitimidade porque eles também têm processos de corrupção ou de
acusações muito sérias. Portanto, parece algo contraditório, paradoxal,
que alguém que tem interesse direto nesta situação possa decidir algo
tão relevante, tão importante como é o destino político da presidenta
eleita democraticamente.
Acredito que poderia haver vias
diferentes, mas, em todo caso, espero que, no processo que agora se
abre, haja imparcialidade, mas creio que vai ser difícil com os
componentes que estão em jogo e como foi iniciado com os interesses
subjacentes que há e mais se parece um justiçamento para derrocar um
governo e uma presidenta eleita democraticamente do que o ânimo para
buscar a verdade, mas, em todo caso, será necessário acompanhar o que
vai estar acontecendo.
Nesse sentido, creio que a sociedade
civil, a universidade civil têm uma obrigação muito grande de estar
vigilantes, de exigir transparência, de aprofundar os motivos e as
causas reais do porquê está acontecendo isso, e não ficar na superfície
da informação, que muitas vezes obedece também a abordagens
respeitáveis, mas que podem ser parciais.
Portanto, essa exigência de
transparência é fundamental nesse momento, que outorgaria uma
credibilidade que, do ponto de vista do exterior, não se comprova.
Eu escrevi e publiquei aqui no Brasil,
há algumas semanas, que poderíamos vivendo um golpe institucional. E os
golpes de Estado institucionais não são feitos pela violência. São fazem
supostamente amparando-se em normas legais, interpretando-se as normas
de uma forma distante à autêntica interpretação que leva à proteção da
sociedade. E se cruzam interesses que possam ser alheios ao interesse
nacional, ao interesse republicano, e mais próximos ao interesse
partidário de quem quer obter o poder de uma forma não democrática.
Esse exemplo se viveu em Honduras,
também no Paraguai. È verdade que são países pequenos, não com a
envergadura do Brasil, e precisamente porque essa envergadura, essa
importância mundial do Brasil é de primeira ordem, é muito mais
preocupante."
Tradução: Rogério Tomaz Jr.
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