Foram longos meses de chicana, sabotagem, violência, conspiração que desaguaram no golpe em curso. O Brasil está dominado por golpistas covardes e traidores.
Sofri toda sorte de sabotagem', diz Dilma à imprensa estrangeira
Em ofensiva na
imprensa estrangeira contra sua possível cassação definitiva, a
presidente afastada Dilma Rousseff disse nesta sexta-feira que seu
governo sofreu "toda sorte de sabotagem" como forma de viabilizar sua
queda. BBC
Em coletiva com jornalistas de veículos estrangeiros no
Palácio do Alvorada no dia seguinte a seu afastamento, a petista disse
que as elites do país usaram o impeachment como meio de implementar um
programa de governo que não teria apoio das urnas, liberal na economia e
conservador em outras áreas, como cultural e social.
Dilma argumentou que seu governo propôs medidas para tirar o país da crise, mas que elas não foram aprovadas no Congresso.
"Nós, há 15 meses aproximadamente, sofremos toda sorte de sabotagem na tentativa de governar", afirmou.
"Estávamos
enfrentando uma crise e precisávamos de tomar medidas que deviam ser
aprovadas pelo Congresso. Sistematicamente, todas as saídas propostas no
sentido de sair da crise foram ou invalidadas, bloqueadas, ou aceitas
só parcialmente."
Também nesta sexta-feira, o novo ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles, não descartou a possibilidade de criação de
novos impostos, ainda que temporários, e disse que não vai retirar a
proposta enviada por Dilma ao Congresso de recriação da CPMF.
Governo Temer
A presidente voltou a afirmar que o governo interino de Michel Temer não tem legitimidade.
"Tentam
e querem utilizar agora da prerrogativa do impeachment fraudulento,
portanto do golpe, para poder executar seu programa de governo que não
foi aprovado nas urnas. Porque o programa que eu defendi, a que dei
suporte, é de continuidade dos programas sociais, da inclusão social, da
retomada do crescimento econômico", afirmou.
A economia, que durante seu primeiro mandato já
apresentava sinais de fraqueza, entrou em recessão na passagem para o
segundo, com aumento do desemprego, inflação e juros. Para a oposição e
parte da opinião pública, isso é consequência da má gestão econômica da
administração de Dilma.
A presidente afastada disse durante a
entrevista que seu governo procurou enfrentar a crise sem cortar nenhum
programa social - ela argumentou que isso teria desagradado as elites
brasileiras, que se uniram então em torno do impeachment.
"Acontece
que durante 13 anos nós implementamos no Brasil um programa de inclusão
social, que não era um programa liberal, que valorizava por exemplo o
pré-sal. Muitas pessoas nas elites estavam descontentes com isso. Ora,
há uma outra visão sobre como o país deve se comportar para sair da
crise", disse.
"Essa visão criou uma sólida aliança entre vários
segmentos. Aproveitou-se de um conflito que está caracterizado no Brasil
há muito tempo entre Executivo e Legislativo e perceberam condições
bastante favoráveis na medida em que havia uma versão dada pela grande
imprensa brasileira a respeito da situação."
Negros e mulheres
A
presidente afastada criticou a formação 100% masculina e branca do
gabinete de Temer, anunciada na quinta-feira, quando o peemedebista
tomou posse como presidente interino.
"Eu lamento que depois de
muito tempo não haja mulheres e negros no ministério. Negro e mulher (no
governo) é fundamental se você quer construir um país inclusivo, não só
do ponto de vista social, mas cultural e dos direitos humanos",
criticou.
"Acho que é um governo (...) que vai ser liberal na
economia e extremamente conservador na área de cultura, na área social,
está mostrando isso na sua formação."
Nova rotina
Questionada
por jornalistas sobre sua vida pessoal após o afastamento, Dilma
afirmou que não acredita que terá muito tempo livre agora porque terá
que se dedicar a sua defesa jurídica e política. Nesta quinta-feira, o
Senado determinou seu afastamento por até 180 dias, período em que será
realizado seu julgamento.
O objetivo de Dilma é evitar que dois
terços do Senado votem a favor de seu impeachment, algo que resultaria
em seu afastamento definitivo do cargo.
A petista disse que quer viajar pelo país para se defender e que avaliará todos os convites.
"Eu vou viajar pelo Brasil sempre que me chamarem para ir. Quem me convidar, vou avaliar. Para qualquer lugar."
Um
dos jornalistas perguntou especificamente sobre um conversa com o chefe
da Igreja Católica. "Se o papa me convidar, você pode ter certeza (que
vou). Porque eu tenho uma imensa admiração pelo papa."
Investigações
O
ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União José Eduardo
Cardozo, responsável pela defesa de Dilma, também participou da
entrevista e disse acreditar que a operação Lava Jato terá continuidade
no governo Temer. Segundo ele, o governo petista criou uma "cultura" de
autonomia da Polícia Federal e do Ministério Público Federal que seria
difícil de reverter.
"Imagino que pessoas vão tentar matar a Lava Jato, mas duvido que consigam", afirmou.
Cardozo
é atualmente investigado pela Procuradoria-Geral da República por ter
supostamente influenciado na nomeação do ministro do STJ (Superior
Tribunal de Justiça) Marcelo Navarro com objetivo de soltar presos da
Lava Jato. Ele nega as acusações.
Apesar de ter perdido o foro
privilegiado, Cardozo acredita que a investigação continuará sobre a
tutela do Supremo Tribunal Federal, e não do juiz Sergio Moro, porque
Navarro possui foro.
Disse, porém, que não tem receio de ser
investigado na primeira instância da Justiça. "Pode colocar o juiz que
quiser para investigar esses fatos que não têm o menor cabimento."
Dilma,
por sua vez, reclamou que haveria tratamento diferenciado no caso de
investigações contra membros e aliados do seu governo e contra partidos
que faziam oposição a sua administração.
"Sistematicamente, tudo
que se acusa a nós é aceito. Tudo que se acusa ou se pede investigação
da oposição é recusado. A mim tentaram sistematicamente investigar.
Viraram do avesso, eu nunca tive conta no exterior, não recebo propina."
A
declaração pareceu uma referência à decisão do ministro do STF Gilmar
Mendes de determinar que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
reavaliasse a necessidade de abrir um inquérito contra o senador Aécio
Neves (PSDB-MG) para investigar suposto envolvimento em esquema de
corrupção em Furnas.
Questionada sobre o que achava da decisão, a petista ironizou: "Acho bastante interessante, extremamente interessante".
Apesar
de a assessoria de Dilma ter convidado cerca de 20 veículos para a
entrevista, ela iniciou a conversa dizendo que estava sem tempo e
responderia apenas a quatro perguntas. Acabou aceitando cinco no total.
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