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sábado, 14 de dezembro de 2013

O IPTU e o duelo entre ricos e pobres

Por Marco Aurélio Mello, no blog DoLaDoDeLá:
"Tirar dos ricos para dar aos pobres". Esta é a lógica do aumento do IPTU na cidade de São Paulo. Esta é a lógica para quem defende com orgulho - mas muita falta de informação - uma social-democracia. E deveria ser a lógica do Estado de bem-estar social (welfare state), conceito que nasceu na Europa e até hoje encanta o mundo com o exemplo Escandinavo ( Suécia, Dinamarca, Noruega e Finlândia, países com os melhores indicadores sociais do planeta).

Governos ditos progressistas, como os do PT e seus aliados, entendem políticas redistributivas como sendo alavancas para o progresso social. Apesar de maciço apoio popular, como tem demonstrado as últimas eleições e pesquisas de opinião, ainda estão longe de promover mudanças num ritmo mais adequado às nossas necessidades, numa sociedade tão injusta e desigual.
A lógica de "tirar dos ricos para dar aos pobres" é mítica e encontra na figura de Robin Hood sua imagem acabada. O fora-da-lei que, na idade média, durante as Cruzadas, roubava a nobreza inglesa para dar aos pobres e segregados da floresta de Sherwood. E que, não por acaso, ganhou a alcunha de "príncipe dos ladrões", por haver em seu ímpeto um quê de "mais humano em nós".

"Seu dou de comer a um pobre chamam-me santo. Se questiono o porquê de tanta pobreza chamam-me comunista", teria dito Dom Helder Câmara. É do mesmo Dom Helder outra máxima cristã: "o verdadeiro cristianismo rejeita a ideia de que uns nascem pobres e outros ricos, e que os pobres devem atribuir a sua pobreza à vontade de Deus."

A incompatibilidade entre a sociedade dita fraterna e o "livre mercado" é indiscutível. Esta última é a lógica implacável do capital, como deixou bem claro recentemente o Papa Francisco que, hipocritamente, acaba de ser indicado ao Nobel da Paz - só se for a paz dos cemitérios!

Voltando ao IPTU de São Paulo, a lógica era cobrar menos de quem mais precisa e cobrar mais de quem menos precisa. Nada mais republicano e social-democrata. No entanto, entre os ricos paulistanos, o órgão mais sensível à dor continua sendo o bolso. Mesquinhos e egoístas, deveriam ser enterrados com seus pertences, como os faraós, sem extrema-unção, sem choro, nem vela.

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