Estelionatos eleitorais
Em 1994, Lula derrapou quando atacou o real. Hoje, os tucanos repetem o erro
Se perguntarem ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva qual
foi sua maior derrapada política numa carreira repleta de acertos, ele
provavelmente responderá que foi a frase dita em junho de 1994. Naquele
mês, com o início do Plano Real, a inflação desabou e o então candidato à
Presidência da República foi categórico. “Estelionato eleitoral”,
cravou.
Lula, que até então liderava as pesquisas, foi atropelado por
Fernando Henrique Cardoso, porque, naquele momento, preferiu não ficar
ao lado do povo.
Dezoito anos depois, com a estabilidade já tendo atingido a
maioridade no País, os tucanos repetem o mesmo erro. Por mais complexa
que seja a discussão sobre as concessões do setor elétrico, o objetivo
do governo Dilma é louvável: reduzir, já no início de 2013, as contas de
luz em 20%, tanto para as empresas como para as pessoas físicas.
Coincidência ou não, o plano foi rechaçado por governos de três
Estados administrados pelo PSDB (São Paulo, Minas Gerais e Paraná), que
têm importância decisiva na matriz energética brasileira. E a meta de
corte de custos apontada por Dilma só será alcançada se recursos do
Tesouro Nacional forem usados para equilibrar as contas. Vocalizando a
insatisfação tucana, Sérgio Guerra repetiu a mesma frase dita por Lula
em 1994: “Estelionato eleitoral.”
Que a redução nas contas de luz trará efeitos políticos é elementar.
Afinal, que família ou empresa brasileira não ficará satisfeita em
reduzir em 20% seus gastos com as contas de luz? Além disso, só essa
mudança já reduzirá a inflação de 2013 em 1,5 ponto percentual – o que
significa que será possível aprofundar ainda mais a política de juros
baixos. E, se o governo vier a usar recursos do Tesouro, terá também
poupado alguns bilhões no serviço da dívida interna.
Para o PSDB, que hoje busca uma reaproximação com o eleitor, o pior
caminho é a escolha de um discurso antipopular. Imaginar que a defesa de
juros altos, energia cara e de investidores financeiros possa render
votos é um caminho, no mínimo, arriscado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário