Aécio Neves e o então presidente do STF, Ayres Brito, em
junho passado, quando já se esperava o julgamento do "mensalão" durante a
campanha eleitoral (Cadu Gomes/aecioneves.net.br)
Até muito recentemente, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) evitava o
assunto mensalão e Marcos Valério. Era como falar de corda em casa de
enforcado. Afinal Marcos Valério tinha uma relação muito mais antiga e
próxima com o PSDB mineiro.
Afinal de contas, o mensalão tucano foi em 1998; o vice-governador de
Aécio entre 2003 e 2006 foi sócio de Valério; as agências de
publicidade dele atendiam o governo de Aécio em 2005 quando estourou o
escândalo para os lados do PT; a ex-secretária de Valério, Fernanda
Somaggio, disse na CPI ter marcado dois encontros do seu chefe com o
então governador Aécio (aqui, na pág. 44). Estavam registrados na agenda e o tucano acabou tendo que confirmar; a mesma Karina afirmou em entrevista
que Cristiano Paz, sócio de Valério, tinha grande amizade com Aécio; e a
agência Estado noticiou que três publicitários e dois deputados,
ouvidos em off, confirmaram que a agência SMPB, de Valério, captou dinheiro para Aécio em 2002.
Mas agora o senador tucano aparece todo serelepe e auto-confiante
tripudiando sobre o assunto. Fala até em convidar o publicitário para
falar no Congresso e reafirmar o que teria dito sobre o ex-presidente
Lula em um depoimento dado após ter sido condenado a vários anos de
prisão.
A lógica só aponta para um rumo: um acordo para dar o indulto a
Valério, do tipo: "Você não tem mais nada a perder, ataque Lula e o PT
que eu te indulto em 2015, se eu for eleito presidente". Nesse caso,
Valério teria tudo a ganhar, atacando Lula, para fazer campanha para
Aécio Neves, e livrar-se da prisão com um indulto-pizza.
Mas vamos analisar os fatos: em 2005, com o escândalo do mensalão,
Valério entregou a relação de alguns pagamentos via caixa 2. Escolheu
quase só alvos da base governista federal. Não envolveu Aécio e sua
gente (o mensalão tucano já era conhecido e já havia se transformado em
processo de improbidade administrativa antes).
Qual a lógica? Amarrar seu destino aos governistas da época. Assim,
ou se livravam todos ou cairiam todos juntos. Ao poupar as peripécias
tucanas durante as eleições de 2002, pensava que, com o escândalo, os
tucanos voltariam ao poder em 2006. Um procurador-geral da República
seria nomeado para "engavetar" o processo e faria "uma bela pizza". A
carreira empresarial de Valério seria retomada discretamente logo
depois, com outros contratos com o governo federal que, imaginava-se,
seria tucano.
O tempo passou, e todos foram condenados sob pressão dos antigos
amigos tucanos. Provavelmente Valério e o sócio, Cristiano Paz, devem
ter se arrependido e se sentido traídos pelos "amigos" do PSDB. Se
tivessem arrolado o nome da tucanada no mesmo pacote, em vez de eles
pressionarem pela condenação, teriam pressionado por livrar a cara,
inclusive de ambos.
Mas agora é tarde, a condenação dos petistas é fato consumado.
Valeria a pena detonar os tucanos que pressionaram pela condenação por
vingança? No momento, não. Seria um tiro no pé, porque só acrescentaria
novos crimes para novas condenações dele mesmo, o que aumentaria a pena.
Então qual a única forma de Valério reduzir os danos da situação em
que se encontra? Negociar com os tucanos um indulto e dar uma "forcinha"
para que Aécio seja eleito presidente, já que é impossível negociar com
petistas, pois ele, Valério, contribuiu para que eles se dessem mal.
E o que os tucanos precisam em troca, para tentarem ser eleitos? Que
Marcos Valério detone os petistas e seu principal cabo eleitoral, o
ex-presidente Lula. Dentro desta lógica pouco importa se o que Marcos
Valério diz é mentira. Importa as manchetes que infestam o noticiário,
para desgastar o adversário.
Se perguntarem a Aécio ou Marcos Valério, é claro que ninguém vai
admitir nada disso. Mas a análise política aponta para esta conclusão.
No passado parecia haver um certo pacto de não agressão entre Aécio e
Lula. O tucano manteve-se distante até mesmo da CPI dos Correios. Agora
que até FHC já disse que é preciso começar a campanha por Aécio em 2014
imediatamente, esse pacto foi quebrado.
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